terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Anderson Silva: A Criação do Mito



Todo mito segue uma sequência construtiva. Você já deve ter reparado nos filmes de Hollywood. É só você deixar de se ater à linguagem criativa que sobrará a mensagem principal e o arquétipo envoltos na história (mito). Parece complicado, mas é simples de entender. Ano após ano nos encantamos com os filmes premiados, mas mal sabemos que eles todos seguem a mesma sequência construtiva.

Não posso me aprofundar mais nisso senão deixarei o artigo longo e você perderá o interesse pela leitura. Preciso só de mais um pouco da sua atenção nessa introdução.

Assim como a história de um filme, pessoas também têm suas próprias histórias. No entanto, na grande realidade da vida nenhuma delas segue a sequência construtiva de um filme, por exemplo. Quem nunca ouviu: “só acontece no cinema, queria ver na vida real”.
Pois é, o que você acha que chama mais a atenção da população, histórias cinematográficas (mitos) ou histórias reais?

Não poderia escrever a partir daqui sem essa pobre introdução. Desculpem-me.

Pois é, Anderson Silva é um mito. Você concorda?
  • Infância humilde. Encontra nas artes marciais um chamado para a vida. (etapa 01)
  • Em um momento encontra um tutor (Minotauro) que o conduz pela trilha do MMA. (etapa 02)
  • O primeiro torneio (Brazilian Freestyle Circuit) e a partida. (etapa 03)
  • As provações começam. Dificuldades. (etapa 04)
  • Momento de reflexão: as coisas estão dando certo até que o ingresso no maior evento da época (Pride) concretiza a introdução do mito.
  • CRISE: (Pride 26: Bad to the Bone) Podemos dizer que foi a primeira derrota do candidato ao mito. Derrota esta que o fez chorar de verdade. Quanta coisa não deve ter passado pela cabeça dele. Veja o vídeo: http://youtu.be/k_QeJ5kPUto “[...] tem que ser forte para levantar a cabeça e dar a volta por cima.” (1’22” do vídeo)
  • A derrota é superada psicologicamente e depois de três anos disputando alguns torneios sem tanta expressão como o Pride o convite para lutar no UFC (O tesouro). O UFC nessa época já era promessa, mas ainda não tinha a rentabilidade nem a audiência dos dias atuais.
  • O resultado disso tudo você já conhece. Ganhou o cinturão e não perdeu mais. Foram 10 defesas consecutivas desde 2006.
  •  Lutador de MMA de sucesso ganhou a vida fora para depois retornar como ídolo à massa brasileira.
  •  Já consagrado dentro do octógono uma nova vida o esperava aqui no Brasil. Agora para mexer com a publicidade, a mente de jovens, e por aí vai. Tudo isso fez com que ele compreendesse sua nova posição, agora não só como atleta, mas como “ídolo” que a mídia brasileira gosta de providenciar.

Isso é uma história. Isso é um mito. Com um pouco mais de prática você conseguirá encaixar esta mesma sequência em qualquer filme americano.

Uma vez escrito o mito, só resta um “the end”, ou melhor “happy end”, ou “viveram felizes para sempre”. Mas, o Anderson quer lutar. Não quer que acabe ainda. Pois então, aqui fica minha pergunta:

Por qual razão continuar lutando? Qual será a motivação? Como a história "Anderson Silva" continuará atrativa se ela já chegou ao final?

Hipótese: reconstrua uma nova história. Comece de um ponto em que a trama pode ficar interessante novamente. A criação do mito, parte II.

Pronto! O cenário foi montado! Anderson Silva é derrotado e uma nova CRISE assume a história do campeão. Nessa parte da crise (a mídia se encarrega disso) vamos colocar a culpa na “arrogância” do lutador que agora voltará com uma nova postura, inspirada por um novo tutor. Mais maduro, mais humilde.

O Anderson tem dado milhares de entrevistas. Dentre elas quero mostrar a entrevista dada ao Estadão. “Eu (Anderson) estou mais maduro.” (1’25” do vídeo) - Link para o vídeo: http://youtu.be/UzMP7MA7VX8

A sorte foi lançada!

Meu objetivo com esse artigo foi deixá-lo registrado antes do confronto que marcará o início da reconstrução do mito.

Uma última e importante ressalva: do lado de lá existe um jovem credenciado e motivado a se manter campeão. Reconstruir essa história envolve derrotar um jovem motivado do outro lado. Não acredito em combinação de resultados. O UFC não é ficção no sentido de manipular, mas no de criar personagens que alimentem espectadores. Dentro do corner eu ainda quero acreditar que prevalece o "que vença o melhor".

Gastei meu tempo aqui com a plena convicção de que estou alimentando a política do "pão e circo". O que me conforta um pouco é tentar pensar no planejamento que há do lado que ninguém vê. Sei que uma luta não é só uma luta. Há mais interesses por trás delas do que qualquer coisa. Então, que prevaleça a tentativa de desvendar as estratégias obscuras. Gosto de exercícios assim.




Emerson Correia Costa
Arquiteto de Marcas