sábado, 10 de janeiro de 2015

Motorola: a marca regida por Maquiavel



Depois de um ano volto a colocar uma reflexão em minha página. A verdade é que não parei de escrever, mas prezei por um ano de estudos em algumas áreas para poder falar de alguns temas sem dizer bobeiras. Bom, mas a quem interessa tudo isso?

Vamos ao que interessa. O tema é sugestivo, mas se lido de relance, sem um conhecimento básico do que venha a ser ética pode causar uma discussão totalmente idiota do tema que proporei.
Não é fácil conviver, ou é? Lidamos com pessoas diferentes, comportamentos diferentes, desejos diferentes e temos que de alguma maneira encontrar o essencial por detrás da pluralidade das coisas para lidar com a convivência. A ética é quem é capaz de fazer essas discussões, sem nos dar a resposta final, certo ou errado, faz ou não faz. A escolha. Temos através dela inúmeras ferramentas para conseguir analisar qualquer tipo de pensamento e em qual das linhas ele se encontra.

Pois bem, estou escrevendo isso porque a Motorola me provocou com um anúncio patrocinado no Facebook alguns dias atrás. E, obviamente, se encaixou dentro desse contexto.
“Não existe certo ou errado quando se trata do que é melhor para você.” Eles disseram isso.

Podemos dizer que é ética uma afirmação dessas? Obviamente que sim. Que tolice seria dizer que isso não é ético já que a ética estuda estruturas de pensamento e as apresenta como instrumentos capazes de direcionar suas escolhas.

Pois bem, um filósofo renascentista disse essa mesma coisa: “os fins justificam os meios”. Maquiavel propôs esta estrutura de pensamento e talvez você concorde com base em seus questionamentos, ou talvez não. A escolha é sua, mas é importante que você saiba qual é a base de sua escolha, de onde ela surge, quem é que está embasando.

Se eu estivesse à frente do branding da Motorola analisaria com cuidado esse conteúdo divulgado. É isso que a marca realmente propõe? Se for, podemos considerar que ela também “foca nos resultados”, portanto, os meios para se atingi-los também são justificados pelos resultados julgados bons?

Construir uma marca de sucesso envolve um mínimo de caminhada nas correntes de pensamento que moldam nossas escolhas hoje em dia. Isso é caminhar na ética para entender o que realmente você quer demonstrar no seu marketing content. Não dá para fazer um curso de branding em uma ótima instituição brasileira para construir valores que você nem sabe de onde estão vindo. Onde a Motorola quer chegar? Fiquei curioso.

Minha sugestão com base na sugestão deles é a seguinte: se você não tiver R$800,00 para comprar um aparelho da marca, tente se corromper para adquirir esse dinheiro. Afinal, dentro da corrente de pensamento proposta por eles, a sua corrupção não terá sido algo ruim, pois quando se trata do fim que é procurar algo melhor para você, nada do que você faz para conseguir está errado.

Senhores publicitários e estrategistas: será que essa é a melhor diretriz dentro da discussão ética para se conseguir rentabilidade, seja através da exploração da mão-de-obra, seja através do consumismo? Tristemente tenho que dizer, mais de 40 mil pessoas, até a data dessa postagem, seguem essa linha de pensamento. Isto é ético? Sim! Você concorda? Aí já é sua escolha com base nas ferramentas que a ética te oferece para julgar. A escolha é sua.




Emerson Correia Costa
Gestor de Marcas



2 comentários:

  1. Emerson,

    Muito bom o paralelo Motorola/Maquiavel.
    Já que não existe certo e errado quando se trata do que é melhor pra mim, vou roubar o cara que fez a campanha pra poder comprar meu celular Motorola e ser feliz, já que não existe errado.
    Hahahahahaha (na internet é sempre bom identificar o que não é sério com uma risada, vai que...)

    Há ainda uma outra análise possível deste anúncio.

    Nietzsche afirmou: "Os homens inventam o ideal para negar o real" e também: "Minha fórmula para a grandeza no homem é amor fati: nada querer diferente, seja para trás, seja para frente, seja em toda a eternidade. Não apenas suportar o necessário, menos ainda ocultá -lo (...) mas amá-lo...”

    Para ele, a "grandeza no homem" estava em amar o mundo como ele é, ou seja, negar os ídolos que transcendem a realidade e amar o momento presente, nem o passado ("para trás"), nem o futuro ("para a frente"), mas amar o "aqui e agora". Estes ídolos podem ser desde Deus ("Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!" Nietzsche) até utopias, ideais e valores morais superiores ao nosso desejo. Para ele, o que realmente tem valor é o que desejamos, pois nosso desejo não vem do que transcende, mas da realidade: aqui e agora.

    "Eis o ensinamento de minha doutrina: "Viva de forma a ter de desejar reviver — é o dever —, pois, em todo caso, você reviverá! Aquele para quem o esforço é a alegria suprema, que se esforce! Aquele que ama antes de tudo o repouso, que repouse! Aquele que ama antes de tudo se submeter, obedecer e seguir, que obedeça! Mas que saiba para o que dirige sua preferência, e não recue diante de nenhum meio! É a eternidade que está em jogo!” Nietzsche.

    Sendo assim, o anúncio da Motorola se encaixa completamente com os conceitos de Nietzsche: Não existe um valor transcendente ou imperativos que dominam sobre você (certo e errado), o que importa é o seu desejo (aquilo que você julga ser melhor pra você). Eles negam os ídolos morais de "certo" e "errado" para darem "grandeza" ao "aqui e agora": o desejo do cliente.

    Em outras palavras: "não se reprima", "o que importa é o que te faz feliz", e outras belas frases que podem ser encontradas nos banheiros de rodoviárias por aí.

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    1. Lukas, obrigado! Realmente, de acordo com o que vimos o pensamento de Nietzsche tomou conta das gerações depois dele com os autores que tornaram seu pensamento relevante. Está em nossas ações do dia a dia muito do que ele pensou.

      Lembrei de Goebbels (ministro da propaganda do regime nazista). Veja só o que ele diz:

      “Há sempre ideólogos em nosso meio que acreditam que o tripulante de um submarino, que sai da casa de máquinas sujo e cheio de manchas de óleo, não quer ler outra coisa senão O mito do século XX [livro doutrinário]. Isso, claro está, é pura insensatez. Um homem
      desses não está absolutamente disposto para tal leitura, e muito menos quer que lhe venham ensinar um modo de viver. Ele está vivendo segundo nosso costume e não quer receber instruções para isso. O seu maior desejo é descansar o corpo e o espírito, e nós
      devemos tornar-lhe possível a realização de seu desejo proporcionando-lhe literatura amena, música leve pelo rádio e coisas desse mesmo gênero. Estou pondo em prática essa política em nossos programas radiofônicos e cinematográficos, bem como em nossa literatura.
      Depois da guerra poderemos voltar a falar em educação ideológica. Por ora, estamos vivendo nossa ideologia, não precisamos aprendê-la.” (27/02/1942)

      Vivemos ideologias, mas não as conhecemos. Temos Kant, Nietzsche, gregos, pós-modernos reescrevendo o que essa galera pensou, enfim, nada melhor que uma reflexão para respondermos a nós mesmos: por que fazemos o que fazemos?

      Com relação ao seu comentário eu só pediria ajuda aos universitários (rs) para um ponto: será que o pensamento de Nietzsche teria espaço para o julgamento do melhor, ou pior? Dizer melhor remete a se voltar para um ponto fixo no passado para se fazer uma comparação, logo, se vivemos o presente instante, sem passado ou futuro, como posso julgar? Se na frase “Não existe certo ou errado quando se trata do que é melhor para você", se trocássemos "você" por "para todos" não pularíamos de pragmáticos para utilitaristas, ainda assim podendo julgar a ação, ou desejo, anterior?

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